sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Reflexões


Polícia Civil em luto: reflexões necessárias

                   João Paulo de Abreu*

No início deste mês, um inspetor de polícia morreu e um delegado de polícia restou lesionado em troca de tiros na cidade de Caxias do Sul. Este último ainda corre o risco de ter a perna amputada. Trata-se de ação de combate ao tráfico de drogas. É uma situação que, muitas vezes, passa despercebida pela grande maioria das pessoas.
Para mim, não. Já perdi colegas dessa mesma forma. De manhã, apertei sua mão, à tarde, fui ao hospital e vi-lo nu, envolto em lençóis azuis, em cima de uma maca, no canto da sala do hospital.
"Salário" nenhum paga a vida e recompensa a morte de um policial. Como outras, nossa profissão é diferenciada. Não somos melhores, nem somos piores, mas somos diferentes. Isso, com certeza, somos. Não é para qualquer um, principalmente para aqueles que realmente "vestem a camisa". Mas é preciso ter a consciência de que podemos perder o bem mais precioso que temos, por algo, muitas vezes, incompreensível ou mesmo duvidoso. Daí surgem as perguntas: Será que vale a pena? Por tão pouco? Por quem? Vai de cada um procurar a resposta que melhor lhe aprouver...
A meu ver, o Estado realmente deveria "reconhecer" melhor o "ser humano policial, seja ele civil, seja ele militar. Como disse, também creio que é "impagável" pagar a vida de um policial ou mensurar com exatidão o risco inerente à profissão. No caso em tela, espero que não haja burocracia à percepção dos valores devidos a título de auxílio funeral ou de indenização pela morte. Isso sim que martiriza a família daquele que deu sua vida pela instituição e pelo próximo. Situações como essa, para mim, sempre foram motivos de aprendizado e de reflexão. Jamais duvidar. Jamais dar "sorte para azar". 
Senhores(as) policiais, usem colete!!! Faça sol, faça chuva, incomode quando senta na viatura ou não (mesmo que o Estado só compre do tamanho GG...). É Estado, até quando?
O meu não consegui trocar até agora, sorte que tenho um particular. Protejam-se a qualquer custo. Treinem, até mesmo que se tenha de tirar parte da verba do pequeno salário já recebido. Pode o treino ser a razão de salvar sua vida, a do seu parceiro e a do próximo. O motivo principal em escrever essas reflexões reside no ponto de que gostaria que o Estado olhasse para situações como essa da seguinte forma: invista na Segurança Pública; Invista na Polícia e nos seus policiais; Invista em treinamento, na compra de equipamentos mais modernos (não digo só armas, pelo contrário...);
Invista em tecnologia. É só olhar para outras Polícias do mundo e veremos que estamos muito atrás em alguns pontos. Precisamos de mais viaturas nas ruas, mais policiamento. Precisamos de mais policiais, urgentemente!
Superioridade numérica é determinante em situações de risco e de crises: estamos com déficit de 50% ou mais no efetivo da Polícia Civil! O número de policiais na ativa é o mesmo de muitos anos atrás. E vejam: há concurso público em andamento, com candidatos aprovados e prontos para sentarem-se nos bancos da Academia de Polícia e serem formados. Perspectiva? Só para março de 2012 e olhe lá. Não dá mais. A população não merece, nem nós. Impossível dar conta de tudo. Certamente o que se vê hoje é feito por amor às instituições e por amor ao próximo. É por vocês. Todos nós, policiais, queremos um mundo melhor, e contamos com vocês para isso!


*Foi investigador de Polícia em São Paulo por cerca de 10 anos. Hoje é delegado de Polícia, titular da 1ª Delegacia da cidade do Rio Grande.
joao-abreu@pc.rs.gov.br

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